Daremos continuidade ao nosso segundo post, caso não tenham visto o primeiro, volte lá e depois retorne para cá. Nesse post iremos falar um pouco acerca da conceituação da Fogo.
Fogo é a oxidação rápida, autossustentada por meio de uma reação exotérmica
de uma substância combustível com um oxidante, acompanhada de emissão
de intensidade variada de calor, luz e fumaça (Coté et al, 2002).
Para que o fogo exista, é necessária a presença simultânea de Quatro Elementos, São Eles:
* Combustível, Comburente (normalmente o oxigênio), Calor e Reação em Cadeia.
Para efeito didático, normalmente esses elementos são comumente representados
na forma de um tetraedro.
Assim, define-se incêndio como sendo o fogo disseminando-se de forma descontrolada
no tempo e no espaço (ISO 8421-1), causando danos e prejuízos à
vida, ao patrimônio e ao meio ambiente.
Objetivando uniformizar a linguagem e as soluções de combate ao fogo (principalmente
no que tange à utilização de extintores portáteis), dividem-se os
incêndios em função do material em combustão nas seguintes “classes” (letras)
e símbolos padronizados:
- CLASSE A: Fogo em materiais combustíveis sólidos comuns:
* Madeira, Papel, Tecido e Outros Materiais Fibrosos, Lixo, Borracha, Plásticos Termoestá- veis, Fibras Orgânicas e outros) que queimam em superfície e profundidade,
deixando resíduos.
- CLASSE B: Fogo em líquidos ou gases inflamáveis ou combustíveis, ou ainda
em sólidos que se liquefazem para entrar em combustão:
* GLP, Gasolina, Óleos Combustíveis, Tintas, Parafina e Outros) que queimam somente em superfície.
- CLASSE C: Fogo envolvendo equipamentos elétricos energizados:
* Painéis Elétricos, Motores, Cabos, Equipamentos Elétricos e Outros).
- CLASSE D: Fogo em metais ou ligas metálicas combustíveis:
* Materiais Pirofóricos como, Magnésio, Fósforo, Titânio, Alumínio, Lítio, Sódio, Potássio, Zinco, Urânio, etc.).
- CLASSE K: Fogo em óleos ou gorduras vegetais ou animais, utilizados na
cocção.
Não existem incêndios iguais, pois as características de cada incêndio são
determinadas por diversos fatores, dentre os quais, destacam-se (Seito et al.,
2008):
a) Forma geométrica e dimensões da área atingida.
b) Superfície específica dos materiais combustíveis envolvidos.
c) Distribuição dos materiais combustíveis no ambiente.
d) Quantidade de material combustível incorporado ou temporário.
e) Características de queima dos materiais envolvidos.
f) Local do início do incêndio no ambiente.
g) Condições ambientais (temperatura, pressão e umidade relativa).
h) Ventilação do ambiente atingido e localização das penetrações desse
ambiente.
i) Aberturas desprotegidas entre ambientes adjacentes.
j) Projeto arquitetônico do ambiente e de seu entorno.
k) Medidas de prevenção contra incêndios existentes.
Num primeiro estágio do incêndio, verifica-se uma fase de latência (pré-ignição),
ou seja, a combustão muito lenta, com pouca produção de calor e baixa
emissão de gases combustíveis e fumaça.
Esse primeiro estágio, em casos
muito particulares, pode durar até horas. Ainda nessa etapa, verifica-se a efetiva
deflagração de chama aberta (ou ignição). Destaca-se que nesse estágio,
a movimentação da fumaça ainda é muito pequena e deve-se exclusivamente
ao fluxo de ar ambiente, resultando em grande dificuldade de percepção.
Já no segundo estágio, verifica-se o crescimento do incêndio com a propagação
do fogo para objetos adjacentes ou ainda para a cobertura ou teto do
ambiente. Percebe-se o aumento significativo da temperatura, com grande geração
de fumaça e calor.
A transmissão de calor (ou energia) durante o incêndio se dá por condução,
convecção e radiação e assim influencia a manutenção, o crescimento, a velocidade
do fogo (tempo de queima) e a propagação do próprio incêndio.
Quando a temperatura dos gases quentes junto ao teto do ambiente de origem
atinge valores superiores a 600°C, todo o ambiente é tomado por gases e vapores
combustíveis desenvolvidos a partir da pirólise dos combustíveis sólidos
ou ainda pela vaporização dos líquidos combustíveis até atingir a inflamação
generalizada (ou flashover) quando esse ambiente é inteiramente tomado por
grandes labaredas.
Em um ambiente com oxigênio em abundância, a inflamação generalizada
ocorre em um tempo máximo de 20 minutos após o início do incêndio (Marti’n
e Peris, 1982).
Após a inflamação generalizada tem-se o incêndio desenvolvido, ou terceiro
estágio, quando todos os materiais combustíveis do ambiente entrarão em
combustão (Seito et al., 2008) e provavelmente haverá propagação por meio
das aberturas internas, fachadas e cobertura.
A razão de desenvolvimento do calor numa situação de incêndio é diretamente
proporcional ao consumo de massa de combustível e do seu efetivo poder
calorífico e, assim nessa fase o incêndio pode atingir valores de temperatura
acima de 1.100°C (Seito et al., 2008), sendo fundamentalmente limitado pela
carga incêndio (quantidade, características dos materiais e disposição desses
no ambiente) e pela ventilação (quantidade de comburente disponível no ambiente
e aberturas para propiciar a queima dos materiais).
Assim, têm-se dois “padrões” distintos de evolução dos incêndios, ou seja, os
incêndios com desenvolvimento controlado por sua ventilação e os incêndios
com desenvolvimento controlado por sua carga incêndio, cada qual com suas
características próprias e diferentes riscos.
Na terceiro estágio, a reação ao fogo dos elementos construtivos e de acabamento
é fundamental, definindo a velocidade de alastramento do incêndio e determinando
as oportunidades de salvamento de pessoas e bens.
Em seguida vem o quarto e último estágio do incêndio, ou extinção do fogo,
quando esse diminui de intensidade em razão da redução da disponibilidade
de material combustível para queima.
É evidente que quanto mais rápida a intervenção para controlar e extinguir o
incêndio, maior a probabilidade de sucesso da ação, ao mesmo tempo em que
menores serão os recursos necessários para o combate às chamas e os prejuízos advindos do incidente. A extinção do incêndio se dá através de uma ação para romper o tetraedro
do fogo.
Eliminando-se qualquer um dos quatro elementos essenciais para a
manutenção do fogo, interrompe-se o processo de combustão e, consequentemente,
o incêndio. Assim, pode-se eliminar, afastar ou bloquear o combustível
(isolamento), embora isso nem sempre seja possível.
Pode-se reduzir, eliminar
ou afastar o comburente (oxigênio), por abafamento ou pela sua substituição
por outro gás não comburente (inerte). Pode-se eliminar o calor através do
resfriamento no ponto em que ocorre a queima ou combustão ou, ainda, pode-se
interromper a reação em cadeia.
A fumaça desenvolvida no incêndio minimiza o entendimento da sinalização
de segurança, provoca lacrimejamento, tosse, sufocação, debilitando a movimentação
das pessoas e gerando pânico, dificultando muito o acesso às rotas
de fuga.
A fumaça é a concentração visível de partículas sólidas e/ou líquidas em suspensão
gasosa, resultante da combustão ou pirólise (ISO/GUIDE 52/TAG5,
1990).
A composição química da fumaça é altamente complexa, assim como
o mecanismo de formação (Seito et al., 2008), sendo a principal responsável no
agravamento das dificuldades do abandono organizado das edificações.
Portanto, verifica-se ser fundamental conhecer o comportamento dos materiais
construtivos, dos materiais de revestimento e dos acabamentos quanto
a sua reação ao fogo.
Dentre as diversas características apresentadas pelos
materiais frente ao fogo, considera-se:
* Velocidade de propagação superficial
da chama, a densidade óptica específica (obscurecimento da luz no ambiente)
além da toxicidade em si, pois têm um papel determinante na eficácia das
medidas de segurança contra incêndio de uma edificação.
Os efeitos negativos da fumaça são contundentes já que tanto a evasão dos
usuários dessa quanto os trabalhos de salvamento, resgate e combate pelo
corpo de bombeiros ou pela brigada ficam severamente prejudicados pela falta
de visibilidade (Mitidieri, 2008).
A propagação de fumaça em uma edificação é muito rápida por ser carregada
pelos gases quentes (Mitidieri, 2008), portanto, torna-se necessário implementar medidas efetivas para conter e controlar seu alastramento vertical e/ou
horizontal com eficiência e rapidez, através de recursos de compartimentação.
Já a ação química da fumaça sobre o organismo humano é ainda mais intensa
em razão da presença de gases tóxicos.
Os efeitos irritantes da fumaça causam
sérias lesões, afetando mucosas, brônquios e particularmente os olhos (Mitidieri,
2008).
As condições críticas durante um incêndio em uma edificação ocorrem quando
a temperatura excede 75°C e/ou o nível de oxigênio (normalmente em torno
de 21% no ar) cai abaixo de 10% ou ainda quando as concentrações de
monóxido de carbono (CO) ultrapassam 5.000 ppm (The Fire Service College,
1995).
Tais condições adversas induzem sentimentos de insegurança que podem
vir a gerar descontrole e pânico (Araujo, 2008).
Do total de vítimas fatais em um incêndio, cerca de 51% vêm a falecer em razão
da inalação de fumaça, 23% falecem em decorrência de inalação de fumaça e queimaduras, perfazendo assim 74% das fatalidades de um incêndio em
decorrência da fumaça, enquanto cerca de 24% vêm a óbito exclusivamente
em razão de queimaduras e 2% por outros motivos (John R. Hall, 2011).
Os meios de escape devem ser constituídos por rotas seguras que proporcionem
aos ocupantes escapar em caso de incêndio de qualquer ponto da edificação
para um lugar seguro fora de edificação, sem assistência exterior (The
Fire Service College, 1995).
Edificação segura contra incêndio é aquela adequadamente projetada, executada
e mantida a fim de minimizar a probabilidade do início de um incêndio,
mas na eventualidade da ocorrência de um incêndio, há alta probabilidade de
que todos os ocupantes sobrevivam sem sofrer qualquer ferimento e no qual
os danos à propriedade serão confinados às vizinhanças imediatas do local de
origem do fogo. (Adaptado de Harmathy, 1984, apud Berto, 1991).
A melhoria das condições de segurança contra incêndio é obtida através de
medidas de prevenção e de medidas de proteção:
Medidas de prevenção de incêndios são aquelas destinadas a minimizar os
riscos de ocorrência de incêndios e compreendem, dentre outras:
* Redução das fontes de ignição, arranjos e construções físicas normalizadas, conscientiza-
ção e manutenção preventiva e corretiva dos sistemas, bem como a preparação para correta atuação caso ocorram, através de Treinamento, Reciclagem Constante e Realização de Simulados.
Medidas de proteção contra incêndios são aquelas destinadas a minimizar
os danos decorrentes de um incêndio, limitando seu crescimento, sua propagação
para outros ambientes e propiciando condições de combate às chamas,
sua extinção ou até sua autoextinção. Essas medidas subdividem-se em medidas
de proteção passiva e medidas de proteção ativa:
• Medidas de proteção passiva são aquelas associadas a aspectos construtivos
intrínsecos à edificação ou aos processos nela contidos e compreendem:
* Seleção de materiais e procedimentos de fabricação e instalação, incluindo,
onde aplicável, atendimento aos afastamentos mínimos, barreiras
corta-fogo e fumaça e/ou enclausuramento, selagens corta-fogo e outros.
• Medidas de proteção ativa são aquelas acionadas somente por ocasião
do incêndio e compreendem:
* Sistemas fixos de detecção, de alarme, de extinção
com ação manual (extintores e hidrantes), de supressão com ação
automática, registros, dampers corta-fogo e fumaça com acionamento eletromecânico
e dispositivos de intertravamento para bloqueio de fontes de
energia elétrica do sistema de condicionamento de ar e ventilação e das
fontes de energia elétrica e combustível.
Ressalta-se que o preparo para resposta em situação de emergência através
do efetivo treinamento contínuo (simulados) do plano de intervenção
de incêndio e a prática do plano de abandono de uma edificação são certamente
os grandes responsáveis por minimizar o número de vítimas na
eventualidade de um sinistro.
Conforme pesquisa realizada pelo Nacional Institute of Standards and Technology
– NIST (EUA), após entrevistar sobreviventes do processo de evacuação
das torres gêmeas do World Trade Center em Nova York (EUA), chegou-se
à conclusão que as pessoas que sobreviveram a esse terrível incidente levaram
em média 6 (seis) minutos para reagir e tomar a decisão de evacuar os
edifícios.
A maioria dos sobreviventes se sentiu “paralisada” nos primeiros
minutos, sem saber o que fazer. Muitos arrumaram suas mesas, desligaram os
computadores, pegaram o livro que estavam lendo e deram telefonemas, em
vez de saírem rápida e instintivamente em direção às escadas de emergência
(Moncada, 2005).
Por Hoje, é Só! Daremos Continuidade no Terceiro Post. Até Lá! Fiquem a Vontade para Curtir, Compartilhar, Twittar, Fazer Comentários ou Dar Sugestões.
Referências:
http://www.revistaemergencia.com.br/materias/cartilhas_manuais/politica_nacional_de_atencao_as_urgencias/Jyy4AQ
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