domingo, 30 de novembro de 2014

Inundações e Deslizamentos na Região Serrana do Rio de Janeiro - Janeiro de 2011 - Parte 4/4

              

Durante a fase pós-desastre, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) avaliou o impacto das inundações e deslizamentos sobre a atividade industrial nos sete municípios em ECP entre os dias 11 a 15 de janeiro, e as perdas e danos foram estimados em R$ 153.4 milhões, valor que representa 3% dos custos totais.

Os danos aos estoques de matéria-prima e produtos acabados somaram cerca de R$ 31 milhões, enquanto as perdas decorrentes de redução na produção foram estimadas em R$ 123 milhões.

Assim, no setor industrial os custos indiretos do desastre representam 80% do impacto estimado total. Mais de 83% das empresas foram afetadas pela falta de energia elétrica, 73.4% tiveram problemas com as linhas telefônicas e 67.6% enfrentaram uma redução no quadro de funcionários. 

As unidades que sofreram alagamentos no entorno da empresa ou no parque industrial representam 38.2% e 21.4%, respectivamente. Ainda de acordo com a Firjan, 59.5% das empresas declararam que em função do desastre encontraram dificuldades no recebimento de matéria-prima. 

As dificuldades no escoamento da produção, por sua vez, afetaram 62.4% das empresas pesquisadas na região. A capacidade de produção e o volume de vendas, por sua vez, afetaram 65.3% e 84.4% das empresas, respectivamente.

Em relação ao perfil das empresas pesquisadas, cerca de 96% eram de micro ou pequeno
porte, e 97.8% eram indústrias de transformação (2.2% eram empresas de construção civil).

A maior parte delas (46.4%) estava localizada em Nova Friburgo, município em que o setor foi mais atingido. Em Petrópolis e Teresópolis, por sua vez, estavam localizadas 31.7% e 17.3% das empresas, respectivamente.

Em Nova Friburgo, aproximadamente 80% das empresas foram afetadas pelas inundações e deslizamentos, sendo que, em média, 70% dos funcionários não puderam trabalhar no período da pesquisa. 

Na cidade, mais de 96% das empresas sofreram com a falta de energia elétrica e, além disso, mais de 90% tiveram problemas com as linhas telefônicas, indícios de que o impacto no setor de telecomunicações, embora omitido nessa avaliação em função da falta de informações, foi significativo.

Em Teresópolis, 68.8% das empresas foram afetadas e 64% sofreram redução no quadro de funcionários. No município, 97% e 66.7% das indústrias reportaram falta de energia elétrica e problemas com a linha telefônica, respectivamente. 

Todavia, na cidade apenas 9% das empresas pesquisadas tiveram o parque industrial alagado.

Em Petrópolis, 30.7% das unidades industriais sofreram algum tipo de impacto e 14.8% das empresas reportaram problemas nas linhas telefônicas e no fornecimento de energia elétrica. 

Cerca de 18% das indústrias da cidade reportaram alagamentos no entorno do parque industrial, e 14.8% tiveram suas instalações alagadas.

Nota-se, portanto, que embora de um modo geral a menor parte dos parques industriais sofreu diretamente com os alagamentos, os impactos no entorno, nos serviços de fornecimento de energia e de telecomunicações, as dificuldades de escoamento da produção e de recebimento de matéria-prima, bem como a redução no quadro de funcionários durante a fase pós-desastre reduziram a produção e geraram perdas significativas no período analisado.

No setor de comércio e serviços, as perdas e danos foram estimados pela Fecomércio do Rio de Janeiro em R$ 469.2 milhões. De acordo com a pesquisa realizada pela instituição, 71.54% dos estabelecimentos sofreram algum impacto indireto, enquanto 28.46% foram diretamente afetados pelo desastre. Todavia, não foi possível distribuir o valor estimado total entre impacto direto e indireto.

Entretanto, o tipo de prejuízo mais freqüente (88.94%) entre as empresas pesquisadas, a saber, perda ou queda de faturamento (com valor médio de R$ 19.794,05), sugere que as perdas associadas ao desastre tenham sido relevantes.

De acordo com a Fecomércio do Rio de Janeiro, estima-se que 84% dos estabelecimentos da região tenham sido afetados direta ou indiretamente pelo desastre, sendo que, cerca de duas semanas depois, 557 estavam fechados por conta das inundações e deslizamentos.

A pesquisa também levantou as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor no período pós-desastre. 

Em mais de 67% dos casos, a ausência de clientes era o principal obstáculo ao funcionamento dos estabelecimentos. Falta de recursos financeiros, morosidade nas ações do poder público e as dificuldades de locomoção dos clientes também estão entre os principais pontos negativos aos negócios na região depois das inundações e deslizamentos.

Em relação aos setores de telecomunicações, educação, saúde e turismo, a falta de informações detalhadas inviabiliza análises setoriais mais abrangentes. Todavia, com base em dados parciais e nas informações dos Avadans é possível estabelecer valores mínimos para as perdas e danos em cada um desses setores.

No setor educacional, o Ministério da Educação autorizou o repasse no valor de R$ 74 milhões para a recuperação da rede pública de ensino e, além disso, de acordo com os Avadans, sete escolas particulares foram destruídas ou danificadas e o custo de recuperação desses ativos foi estimado pelas prefeituras em R$ 630 mil. 

Naturalmente, diante das dificuldades de acesso a diversos pontos das cidades afetadas durante a fase emergencial, esse levantamento de danos deve ser considerado parcial.

Na área da saúde, de acordo com os relatórios de avaliação, os danos a rede pública e privada de atendimentos somaram R$ 2.5 milhões. Além disso, o Ministério da Saúde autorizou repasse no valor de R$ 8.7 milhões para ampliação do atendimento hospitalar na região. As perdas e danos mínimos no setor são estimados em R$ 11.2 milhões.

No setor turismo, dados de imprensa indicam danos aos equipamentos da região de ao menos R$ 7 milhões e, segundo estimativas de instituições do setor, a redução de receitas nos primeiros meses do ano chegaria a R$ 50 milhões. As perdas e danos totais foram estimados em R$ 59.4 milhões.

Os danos ambientais, por sua vez, foram reportados pelos municípios nos Avadans. No caso específico da Região Serrana, foram excluídos os danos ao solo na categoria “deslizamentos” para que duplas contagens fossem evitadas (as obras de contenção de encostas foram contabilizadas no setor habitacional).

No setor de infraestrutura de telecomunicações, de acordo com os relatórios de danos, o custo de recuperação dos 242 quilômetros de rede danificados ou destruídos foi estimado em R$ 9.3 milhões. 

De fato, durante a fase pós-desastre foram reportadas diversas interrupções na prestação dos serviços, conforme reforçado pelas informações contidas na pesquisa junto aos setores industrial e comercial. 

Além da recuperação das redes de telefonia fixa e móvel, as empresas do setor também sofreram perdas referentes ao restabelecimento provisório dos serviços de comunicação (doação de aparelhos celulares, por exemplo, para as vítimas do desastre). 

Portanto, o impacto sobre o setor inclui ainda custos indiretos que não foram incorporados nessa avaliação.

As informações apresentadas neste relatório para os desastres da Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011 traçam cenários similares aos de regiões reconhecidamente afetadas por desastres no mundo. 

Em um primeiro plano, os custos totais dos impactos econômicos, mesmo que subestimados no caso do presente documento devido a não disponibilidade de dados específicos, são significativos para a economia do estado. 

Em um segundo plano, o estado do Rio de Janeiro vem sofrendo com a ocorrência de desastres de forma recorrente o que remete ao fato de que o mesmo é vulnerável e, portanto, medidas de gestão de riscos e desastres devam ser incorporadas na agenda pública.

Segundo uma análise geral do evento na Região Serrana, os custos totais de R$ 4.78 bilhões são representativos frente a economia dos municípios afetados. 

Dados do IBGE para o PIB total dos sete municípios foram da ordem de R$ 11.8 bilhões para o ano de 2009. 

Logo, os desastres incorreram em danos e perdas de aproximadamente 40% do total do PIB do ano de 2009. 

Note que estes foram os custos estimados, mas que por razões de complexidade de análise e falta de dados, os efeitos pós-desastres não foram contabilizados o que pode indicar ainda maiores impactos em decorrência dos eventos de 2011. 

Assim, conclui-se que os valores são representativos nas atividades econômicas da Região Serrana, que ainda enfrenta desafios para se recuperar de forma integral para sua situação pré-desastres. 

Além da necessidade de recuperação e reconstrução dos sistemas afetados, existe a necessidade de redução de riscos e vulnerabilidades e que, somente no caso específico dos sete municípios afetados, foram estimados em R$ 1 bilhão para obras de contenção de encostas sem se considerar os custos de reassentamento de população em áreas de risco, por exemplo.

Em específico, o padrão de impactos dos desastres de 2011 remete a grande vulnerabilidade do setor habitacional que, de forma individual, responde por quase a metade das perdas e danos totais estimados (R$ 2.6 bilhões). 

Quando segmentado nos 7 municípios afetados pelo evento, pode-se concluir que os impactos são extremamente representativos para as economias de cada cidade. Além disso, parte relevante dos custos é proveniente de destruição e danificação de habitações populares que, de forma indireta, são arcados pelo poder público.

É importante ainda ressaltar que em conjunto com o aumento dos impactos econômicos de desastres no estado do Rio de Janeiro, observa-se um incremento significativo do número de mortos. 

Apenas nos desastres da Região Serrana, 905 pessoas perderam suas vidas, o que representa 50% do total de mortes em 20 anos de desastres no estado (entre os anos de 1991 e 2010, foram registrados 28 desastres e 1.783 mortes). 

Por fim, deve-se atentar ao fato de que os registros podem ser incompletos devido a pouca tradição do Brasil no setor de gestão de riscos e desastres e, portanto os reais impactos econômicos e sociais possam estar sendo subestimados.

ANEXO 1. Habitação: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Tabelas do programa Minha Casa, Minha Vida.
- Censo de 2010 (IBGE).
- Relatórios das Secretarias de Estado do Rio de Janeiro.

B. Premissas

- Custo de reconstrução de unidade habitacional popular destruída em R$ 63 mil, conforme tabela do Programa Minha Casa, Minha Vida.
- Custo de reconstrução de unidade habitacional popular é de, no mínimo, 25% do custo de construção de uma unidade habitacional popular.
- Custo de recuperação de unidade habitacional (popular e não-popular) é 25% do custo de reconstrução.
- Mobiliário completo de unidade habitacional estimado em R$ 3.500. Custo de reposição de mobiliário de domicílio destruído é estimado em 60% de um kit completo.
Custo de reposição de mobiliário de domicílio danificado é estimado em 30% de um kit completo.
- As perdas de receita por aluguel das unidades não–populares destruídas foram calculadas para um período de 12 meses e com base nos valores dos benefícios de auxílio-reação.

C. Omissões

- Custos de elaboração de laudos de vistoria.
- Custos de obras de terraplanagem e preparação dos terrenos dos novos conjuntos habitacionais.

ANEXO 2. Transporte: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Obras do Rio de Janeiro.

B. Premissas

- Os custos foram obtidos a partir de dados e estimativas fornecidos pela Secretaria de Obras do estado do Rio de Janeiro. Após o desastre, um diagnóstico foi realizado e as obras de recuperação necessárias foram orçadas e organizadas em base de dados da Secretaria estadual. Não foi possível obter detalhes e valores unitários para as obras e projetos contidos na referida base de dados.

C. Omissões

- Aumento de custos de transportes decorrentes de atrasos, desvios ou interrupções de tráfego.
- Custos de ações provisórias para o restabelecimento das condições de tráfego, como pontes do exército, por exemplo.
- Lucros cessantes de transportadores decorrentes das interrupções de tráfego.
- Aumento de custos de transportes decorrentes das demandas do setor não atendidas.

ANEXO 3. Saneamento: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Obras do Rio de Janeiro.

B. Premissas

- Os custos foram obtidos a partir de dados e estimativas fornecidos pela Secretaria de Obras do estado do Rio de Janeiro. Após o desastre, um diagnóstico foi realizado e as obras de recuperação necessárias foram orçadas e organizadas em base de dados da Secretaria estadual. Não foi possível obter detalhes e valores unitários para as obras e projetos contidos na referida base de dados.

C. Omissões

- Perdas de receitas das companhias de abastecimento de água e coleta de esgoto.
- Custos de obras de expansão da rede de distribuição de água e coleta de esgotos para os novos conjuntos habitacionais.

ANEXO 4. Energia: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Energisa Nova Friburgo
- Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
- Eletrobrás.

B. Premissas

- Foram considerados as quantidades e valores reportados pela Energisa Nova Friburgo em relatório entregue a Aneel para o processo de revisão tarifária da companhia.
- Foram utilizadas informações sobre o uso de recursos da Reserva Global de Reversão pelas concessionárias da região.

C. Omissões

- Perdas de receitas das companhias de energia elétrica devido a redução do consumo pelo setor industrial (e outras classes de consumo).
- Perdas com a energia própria não gerada nas pequenas centrais elétricas destruídas em Nova Friburgo.
- Eventuais aumentos de custos operacionais no setor.

ANEXO 5. Setores Econômicos: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Levantamento realizado pela Secretaria Estadual de Agricultura do Rio de Janeiro.
- Levantamento realizado pela Fecomércio do Rio de Janeiro.
- Levantamento realizado pela Firjan-RJ.

B. Premissas

- Foram considerados os valores reportados pelas instituições referidas, obtidos a partir de metodologias próprias de cada organização.
- De acordo com as pesquisas acima, foram considerados apenas impactos imediatos, estimados a partir de pesquisas de campo realizadas poucos dias após o desastre.

C. Omissões

- Perdas de receitas no médio e longo prazos.
- Aumento de custos de insumos e de distribuição de produtos após a fase emergencial.
- Impactos nos municípios de menor porte.

ANEXO 6. Setores Omitidos: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Informações do Ministério da Saúde.
- Informações do Ministério da Educação.
- Informações do Ministério do Turismo.

B. Premissas

- Foram considerados as quantidades e valores reportados pelos municípios através dos Avadans e dos repasses de recursos divulgados pelos Ministérios da Educação e Saúde.

C. Omissões

- Perdas de receitas das companhias de telecomunicações.
- Custos de medidas temporárias de restabelecimento dos meios de comunicação.
- Custos das ações de resgate e atendimento à população atingida pelos deslizamentos.
- Aumento de custos operacionais nos setores atingidos.

Por Hoje, é Só! Fiquem a Vontade para Curtir, Compartilhar, Twittar, Fazer Comentários ou Dar Sugestões.






Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1118816/mod_resource/content/1/Inunda%C3%A7%C3%B5es%20Bruscas%20em%20Santa%20Catarina.pdf

Entendendo, Mapeando e Avaliando o Risco - Parte 1/4

            

A gestão de risco implica, em primeiro lugar, no conhecimento do risco sob a qual uma sociedade está exposta, por meio do seu mapeamento e avaliação. 

Essa etapa, prevista no Art. 6° da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), subsidia o estabelecimento de medidas preventivas e corretivas nas áreas prioritárias.

Dentre os tipos de mapeamentos existentes, destaca-se o mapeamento de suscetibilidade, ameaça, perigo e vulnerabilidade, os quais conjuntamente resultarão no mapa final de risco em uma determinada área. 

A partir dos dados obtidos nesses estudos, são realizadas atividades de prevenção, mitigação e preparação (gestão de risco), bem como de resposta e recuperação (gerenciamento de desastres). 

Mapeando e avaliando a suscetibilidade




A suscetibilidade constitui-se no primeiro passo para a avaliação de risco. Ela indica a potencialidade de ocorrência de processos naturais e tecnológicos em uma área específica, sem considerar seu período de recorrência e seus possíveis danos e prejuízos.


O conhecimento da suscetibilidade é de grande importância aos municípios, e está previsto no Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais. 

Esse mapeamento contribui para o planejamento do uso e ocupação do solo, controle da expansão urbana e avaliação de cenários potenciais de risco. Além disso, ele pode auxiliar na elaboração de medidas de restrição à ocupação, de modo a evitar a formação de novas áreas de risco (CPRM, 2014). 

Com o avanço das geotecnologias (SIG, GPS e sensoriamento remoto) muitas técnicas têm sido propostas para mapeamento e avaliação da suscetibilidade, sendo que não existe um método melhor ou mais adequado. A preferência por um ou outro método irá depender:

• Da disponibilidade, qualidade e precisão dos dados existentes;

• Da escala de mapeamento adotada;


• Da capacidade técnica da equipe para uso das ferramentas disponíveis;

• Dos resultados esperados;

• Da relação custo/benefício.

De maneira geral, os métodos de mapeamento e avaliação da suscetibilidade podem ser divididos em quantitativos e qualitativos. Essa divisão pode ser aplicada também para o mapeamento e avaliação de perigo e risco.

Métodos qualitativos -> Combinação de mapas -> Análise no campo

Métodos quantitativos -> Análise estatística -> Análise determinística -> Análise probabilística

Por exemplo: O método deve ser selecionado em função da escala de trabalho.

* A avaliação da suscetibilidade em áreas extensas, como uma bacia hidrográfica ou um município, pode ser realizada por meio de métodos qualitativos, em escalas médias;

* Já para áreas pequenas, como uma encosta isolada ou o segmento de um rio, o mapeamento pode ser auxiliado por investigações quantitativas com abordagens determinísticas, em escalas grandes.

Os métodos qualitativos são inteiramente baseados no conhecimento e na opinião de especialistas. Eles são de fácil aplicação, no entanto seu inconveniente principal está em sua subjetividade, já que o resultado depende diretamente do conhecimento de quem está avaliando. Dessa forma, é essencial que os mesmos possuam um conhecimento detalhado dos processos em análise.

Os métodos qualitativos podem ser divididos em: execução de análises no campo e combinação de mapas de fatores condicionantes.

No âmbito do Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, a elaboração de Cartas municipais de suscetibilidade a movimentos de massa e inundações ficou a cargo do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), o qual irá mapear 286 municípios prioritários.

A metodologia utilizada pela CPRM tem base qualitativa e varia de acordo com as condições do local. De uma maneira geral, a metodologia adotada pode ser dividida em 5 passos principais.

Exemplo: A Figura 3 apresenta o mapa de suscetibilidade a movimentos de massa e inundações elaborado pela CPRM para o município de Santa Maria Madalena, RJ. Para a confecção desse mapa se utilizou uma metodologia qualitativa baseada na combinação dos seguintes mapas:

* Geologia;

* Declividade;

* Padrões de relevo;

Exemplo: O mapa de suscetibilidade à ocorrência de incêndios foi elaborado a partir do método qualitativo denominado combinação de mapas. Foram sobrepostos os seguintes fatores:

• Total de radiação solar;

• Forma das encostas;

• Combustibilidade.

Os métodos quantitativos buscam reduzir a subjetividade, através da quantificação dos graus de suscetibilidade em valores absolutos.

Eles podem se basear em análises estatísticas, comparando-se a distribuição espacial dos acidentes e desastres já ocorridos com os fatores condicionantes considerados. Podem ainda se basear em análises determinísticas, as quais utilizam modelos matemáticos para quantificar a suscetibilidade.

O que diferencia a classificação dada para a elaboração dos mapas de suscetibilidade das é a base de informações para sua elaboração.

Apenas olhando as figuras não é possível saber como foram elaboradas. Os níveis de suscetibilidade são definidos pela opinião de especialistas (que varia de acordo com a percepção de cada um) enquanto que em outras são delimitados por informações anteriores e modelos matemáticos.

Há ainda mapas de suscetibilidade elaborados a partir de modelos determinísticos. Para saber mais a respeito e ver alguns exemplos aplicando as técnicas SHALSTAB e SINMAP (ambas utilizam uma combinação de modelos), acesse a referência: MICHEL et al., 2012.

Mapeando e avaliando a ameaça e o perigo


Entende-se como ameaça a condição que evidencia a possibilidade de ocorrência de eventos adversos, com capacidade de causar danos e prejuízos. Na avaliação da ameaça não se inclui nenhum tipo de previsão, ou seja, não é avaliada a probabilidade de que esses processos ocorram.

Já o perigo é a situação que tem potencial para causar consequências indesejáveis, para a qual é possível fazer uma estimativa de intervalos de tempo de ocorrência (frequência). Na avaliação do perigo, a suscetibilidade é combinada com os fatores desencadeantes, como por exemplo, o tempo de retorno (TR) de chuvas intensas, o que permite estabelecer uma frequência determinada para os eventos potenciais.

Dessa forma, a avaliação do perigo é resultante da combinação das informações do mapa de inventário de processos (frequência de inundações, deslizamentos, erosões, etc.) e do meio físico (suscetibilidade: tipo de solo, declividade, clima, entre outros).

Assim como a suscetibilidade, o mapeamento e avaliação de perigo podem ser realizados de maneira quantitativa e qualitativa, seguindo as mesmas técnicas apresentadas anteriormente, as quais são:

• Análise no campo;

• Combinação de mapas;

• Análise estatística;

• Análise determinística;

• Análise probabilística.

O perigo é quantificado sob a forma de probabilidade e, portanto, não é definido através de uma unidade de medida, ou seja, é adimensional.

O perigo pode ser definido de forma qualitativa, como alto, médio ou baixo. Mas também pode ser avaliado de forma quantitativa, neste caso em termos de probabilidade de ocorrência de um processo que venha a causar algum dano considerando-se um intervalo de tempo em um determinado local.

Exemplo: 5% de chance de que ocorra uma estiagem nos próximos dois anos e que cause perda da produção agrícola em uma determinada área rural.

Exemplo: Um mapa de perigo a terremotos elaborado por meio de modelos probabilísticos. Esse mapa ilustra a probabilidade de que ocorram terremotos com 0,2 segundos de duração no Hawaii, com uma probabilidade de excedência de 10% em 50 anos. 

A avaliação do perigo a inundação pode ser elaborada de maneira qualitativa, conforme o roteiro apresentado a seguir:

• Levantamento preliminar e georreferenciamento de ocorrências de inundação: levantamento de informações sobre o meio físico da área em estudo para a elaboração de um cadastro com as ocorrências desses processos, o que permitirá identificar a probabilidade qualitativa desses eventos ocorrerem no futuro;

• Execução de trabalhos de campo e espacialização dos dados: com o cadastro é possível selecionar as áreas mais críticas para a realização de trabalhos de campo para verificação e caracterização dos fenômenos ocorridos.

• Delimitação e caracterização de setores de perigo e inundação: os setores de perigo buscam expressar a probabilidade de ocorrência dos processos perigosos, sua distribuição espacial (abrangência), intensidade e recorrência (com intervalo de tempo).

• Delimitação dos Setores de Perigo: tem por finalidade delimitar a abrangência espacial das classes de nível de atingimento, baseado em interpretação visual, cruzado às bases cartográficas.

• Classificação Preliminar do Perigo: feito através do estabelecimento de limiares de classificação baixo, moderado, alto e muito alto.

Resultados se constituem importantes ferramentas de auxílio à gestão pública, que baseada nessas informações têm embasamento para a tomada de decisão quando da restrição de urbanização dessas áreas, seja impedindo que a mesma seja ocupada, seja indicando condições para a sua ocupação.

Mapeando e avaliando a vulnerabilidade


A vulnerabilidade está associada à condição dos elementos sob ameaça ou em perigo (indivíduos, comunidades ou cenários expostos) e pode ser avaliada através do grau esperado de danos e prejuízos no caso do evento acontecer. 

A redução da vulnerabilidade dos elementos expostos é uma das medidas mais eficazes para mitigar os danos humanos, materiais e ambientais.

Sabe-se que não é possível evitar a ocorrência de chuvas intensas ou tempestades, no entanto, podem-se preparar melhor as comunidades e sistemas a fim de que possam ter melhor resposta às ameaças. 

Para tanto, é importante dimensionar e mapear a vulnerabilidade, ou seja, definir o que, quem e quanto são os elementos vulneráveis, onde e como vivem, quais são as relações entre si, para que, a partir disso, se possa trabalhar em medidas efetivas de diminuição da vulnerabilidade, sendo elas estruturais e/ou não estruturais.

O levantamento de dados para mapeamento da vulnerabilidade pode ser realizado por meio do seguinte roteiro:

• Execução de trabalhos de campo: nessa fase é realizado in loco o levantamento dos elementos expostos e vulneráveis. É necessário observar as características físicas e ambientais, as infraestruturas e os serviços disponíveis na área analisada, o perfil da população residente nestas áreas. Para a melhor sistematização dos dados, pode-se preparar questionários para serem aplicados junto aos moradores ou formulários para levantamento de informações sobre as moradias.

• Trabalho de escritório: compreende a compilação e a geração de informações a partir das observações de campo, bem como a conciliação de informações espaciais de diferentes fontes. Algumas ferramentas para a geração de mapas podem ser utilizadas, como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), que permitem a realização de análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados. 

Exemplo: No próprio site do IBGE, é possível espacializar e criar alguns mapas com informações dos habitantes do seu município por setor censitário. 

Através do link http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=2R&uf=43 é possível escolher algumas variáveis de interesse para caracterizar a população residente, por exemplo, por faixa etária.

Há alguns itens essenciais a serem observados que contribuem para a construção do mapeamento, a partir da análise da vulnerabilidade física, vulnerabilidade de função e vulnerabilidade social.

Vulnerabilidade física -> Observe as condições ambientais da área em análise, a localização e o padrão construtivo das instalações, a exposição a situações que as colocam em risco. 

Ao realizar o mapeamento de vulnerabilidade, é importante se ter uma visão integrada das características físicas dos elementos avaliados. 

Identifique locais onde foram retiradas a mata ciliar e a vegetação próxima aos cursos d’água, pois potencializam o assoreamento; obras que modificam a vazão do rio, como canalizações e retificações; e, ainda, atente para a impermeabilização na bacia hidrográfica, que também altera o sistema natural de drenagem.

No caso de deslizamentos, alguns elementos podem indicar vulnerabilidade física:

Terrenos com lançamento de esgotos e águas servidas

O lançamento de água servida ou esgoto nos terrenos propicia a saturação do solo. Em alguns casos, associada a esta situação, até mesmo pouca quantidade de chuva pode ser capaz de deflagrar um deslizamento. 

Esse é o tipo de situação que deve ser atentamente mapeado e solucionado para evitar acidentes, já que podem ocorrer independentemente da estação chuvosa. As moradias que se localizam em terrenos nestas condições possuem maior vulnerabilidade do que aquelas onde não há lançamento de esgotos e águas servidas e que, portanto, não sofrem com a infiltração de águas que levam à saturação dos solos.

Tanto no mapeamento da vulnerabilidade a deslizamentos quanto na vulnerabilidade a
inundações e outros processos, deve-se avaliar:

Padrão construtivo das moradias e características da urbanização

Os materiais utilizados para construção de moradias nos taludes de corte e aterro ou em planícies de inundação podem propiciar maior vulnerabilidade. 

As construções de alvenaria são mais rígidas do que as construções de madeiras, as quais podem ser mais vulneráveis devido à baixa capacidade de resistir ao impacto de processos hidrológicos ou geológicos. 

As áreas onde há predominância de construção do tipo madeira são denominadas de baixo padrão construtivo.

No caso das inundações, um dos principais elementos a ser observado é a ocupação ou não de planícies de inundação, ou seja, aquela área onde o rio, em seu processo natural, extravasa em episódios de cheia. 

A atenção deve ser dada a todos os tipos de loteamento, seja regular ou não. Moradias de alvenaria apresentam maior resistência do que moradias de taipa. 

Entretanto, em caso de enxurradas com alto poder destrutivo, mesmo construções de alvenaria podem ser severamente danificadas ou destruídas. 

Uma observação a ser feita, é que, residências de alvenaria, no caso de desabamentos provocados por deslizamentos ou enxurradas, podem causar danos humanos maiores que aqueles provocados por materiais mais leves, como madeira. 

Além disso, é necessário sempre fazer a avaliação da vulnerabilidade de acordo com a região e o tipo de ameaça que pode ocorrer. Em regiões de inundação, as construções de madeira sobre palafitas, por exemplo, tendem a diminuir a vulnerabilidade.

Vulnerabilidade de função -> Assim como as pessoas, os sistemas de infraestrutura, funções e serviços também podem ser vulneráveis a perigos e sofrer prejuízos ao seu funcionamento. 

Quando afetados, causam impactos diretos e indiretos à população. Em algumas situações, as consequências são sentidas por aqueles que estão a vários quilômetros de onde ocorreu o desastre. 

Por exemplo, as secas que afetam o abastecimento de reservatórios no país elevam o custo da produção de energia elétrica e, consequentemente, da tarifa que é paga pelo consumidor.

Os impactos causados pelos desastres de evolução súbita, como as enxurradas, deslizamentos, vendavais e tornados, ou de evolução gradual, a exemplo das secas, provocam diferentes tipos de transtornos às comunidades. 

Os danos não se restringem apenas aos aspectos econômicos, mas também aos sociais e ambientais. 

As aulas interrompidas em uma escola atingida por uma inundação ou deslizamento levam ao atraso ou até mesmo à perda do ano letivo de estudantes; o lixo acumulado pela falta de coleta pode provocar a contaminação de solos e corpos d’água; a obstrução de uma rodovia ou ponte impede o fluxo de pessoas e mercadorias, entre outros exemplos.

Por Hoje, é Só! Daremos sequência nesse Assunto no Próximo Post. Fiquem a Vontade para Curtir, Compartilhar, Twittar, Fazer Comentários ou Dar Sugestões.






Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1116073/mod_resource/content/7/Cap%C3%ADtulo%205%20-%20Apostila%20-%20Mapeando%20e%20avaliando%20o%20risco.pdf

Inundações e Deslizamentos na Região Serrana do Rio de Janeiro - Janeiro de 2011 - Parte 3/4

            

No setor de infraestrutura de saneamento, as perdas e danos foram estimados em R$ 457 milhões, com a maior parte do impacto registrado nos canais e nos sistemas de drenagem da região, e a propriedade das perdas e danos principalmente do setor público. 

Este valor representa 10% do impacto total e corresponde principalmente aos custos diretos das inundações e deslizamentos.

De acordo com os relatórios de avaliação de danos dos municípios afetados, nove estações de tratamento de água foram atingidas, assim como 87.500 metros da rede de distribuição de água. Além disso, 39.600 metros da rede coletora de esgoto também foram danificados pelo desastre. 

Todavia, tendo em vista a natureza preliminar dessas informações e que, além disso, não foi possível verificar esses dados com base nas informações da Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro, a quantificação dos danos físicos ainda está sujeita a revisões.

No setor de infraestrutura de saneamento praticamente não foi possível estimar os custos indiretos associados ao desastre de janeiro de 2011. 

Todavia, é importante ressaltar que além das perdas decorrentes dos prejuízos aos sistemas de coleta e tratamento de resíduos sólidos reportados pelos municípios, estimadas em aproximadamente R$ 3 milhões, as interrupções no abastecimento, os possíveis aumentos de custos operacionais, os gastos com medidas provisórias para o restabelecimento do fornecimento de água são apenas alguns exemplos de perdas incorridas por agentes do setor que não foram contempladas nas estimativas acima. 

Logo, embora de acordo com as estimativas os canais de impacto direto do desastre no setor de saneamento sejam responsáveis por praticamente todos os custos (99%), a distribuição entre perdas e danos pode se tornar menos assimétrica caso informações adicionais sejam disponibilizadas.

Entre os subsetores, chama a atenção o alto custo das obras de recuperação nos canais de Nova Friburgo, orçadas em aproximadamente R$ 350 milhões.

Além disso, apenas em Teresópolis a reconstrução dos sistemas de drenagem tem custo estimado em mais de R$ 60 milhões. Como não estavam disponíveis informações sobre esse tipo de dano nos outros municípios, é possível que os custos de recuperação da rede de drenagem na região sejam ainda mais elevados.

Análises da distribuição espacial das perdas e danos no setor também requerem a mesma ressalva: informações relevantes sobre itens importantes e com alto custo de recuperação não puderam ser obtidas para todos os municípios, de modo que a concentração de aproximadamente 98% do impacto apenas nas cidades de Nova Friburgo e Teresópolis refletem, ao menos em parte, a indisponibilidade de informações sobre os danos nos outros cinco municípios. 

Em todo caso, Nova Friburgo tende a ser a município mais afetado no setor em função dos danos aos canais e canaletas da cidade, padrão consistente com a avaliação no setor habitacional.

Da mesma forma, embora parte do impacto tenha ocorrido sobre ativos de empresas privadas da região, o alto custo das obras de recuperação da rede de drenagem e dos canais implica em uma forte concentração dos custos sobre o setor público (R$ 418 milhões).

Assim, mais de 90% das perdas e danos estimados no setor de infraestrutura de saneamento podem ter implicações fiscais diretas em algum nível de governo (municipal, estadual ou federal).

Enfim, o restabelecimento dos sistemas de drenagem concentra uma parcela significativa do impacto sobre os ativos e equipamentos do setor de infraestrutura de saneamento, embora os custos de recuperação dos canais de Nova Friburgo (impacto transversal, estimado no setor de saneamento) representem 77% das perdas e danos totais, o que justifica tanto a concentração do impacto em Nova Friburgo quanto sobre o setor público.

No setor de infraestrutura de energia, as perdas e danos foram estimados em R$ 35 milhões, incidentes sobre o setor privado (concessionárias da Região Serrana), dos quais R$ 22 milhões são referentes aos custos diretos do desastre.

Tais estimativas não incorporam, por exemplo, o custo de reposição de duas pequenas centrais elétricas destruídas em Nova Friburgo, nem o valor da energia de geração própria que deixou de ser produzida no município desde janeiro de 2011. 

As perdas de receitas das concessionárias em função da redução do consumo no setor industrial também não estão explícitas nas perdas e danos do setor de infraestrutura de energia.

Os custos diretos representam 63% do impacto estimado total e correspondem principalmente aos custos de recuperação das redes de transmissão e distribuição, embora a concessionária de Nova Friburgo tenha sofrido com os danos em sua subestação e com a destruição de um alimentador – além da destruição nos seus equipamentos de geração.

Segundo relatório produzido pela Energisa Nova Friburgo e disponibilizado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), foram destruídos postes e estruturas diversas, cabos foram partidos e árvores e barreiras tombaram sobre a rede, comprometendo o abastecimento não apenas em Nova Friburgo, mas em Amparo, Lumiar, São Pedro da Serra, Campo do Coelho e Conquista.

Assim, embora a indisponibilidade de dados não tenha permitido estimar as perdas referentes a interrupção no fornecimento de energia, informações parciais indicam um impacto relevante e que transcendeu as sete cidades em Estado de Calamidade Pública - a Ampla Energia, concessionária nas outras seis cidades afetadas, também investiu valores significativos no restabelecimento (provisório e permanente) do fornecimento.

Ainda em relação aos impactos indiretos das inundações e deslizamentos na Região Serrana, vale mencionar que a redução imediata (primeiros dias após o desastre) do consumo industrial/rural/comercial pode estar implícita nas estimativas de perdas de receita desses setores, mas as perdas com a redução do consumo residencial e público,
bem como a redução de consumo ao longo do semestre em todos os setores, não foram estimadas.

Segundo dados na Energisa Nova Friburgo, em função do desastre, no primeiro trimestre de 2011 o consumo industrial caiu 23.4% em relação ao mesmo período de 2010. 

No segundo trimestre, a queda em relação ao consumo no segundo trimestre de 2010 foi de 13.2% e, com isso, o recuo acumulado nos primeiros seis meses de 2011 foi de 18.2%. 

De acordo com o relatório da concessionária, as atividades industriais mais afetadas foram a têxtil, a de artigos de vestuário e o ramo de papel e celulose, com queda no consumo acumulada no semestre de 65.2%, 25% e 17.2%, respectivamente.

O setor rural também consumiu menos energia em função das inundações e deslizamentos.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2010, o consumo da classe foi 17.5% menor. O consumo pela classe residencial também caiu nos primeiros três meses do ano (-6.2%), mas demonstrou recuperação já no segundo trimestre (alta de 0.2% em relação ao consumo no mesmo período do ano anterior).

Outro dado que sugere um impacto indireto relevante no setor de infraestrutura de energia é a redução no número de unidades consumidoras nos setores industrial e rural. 

Na comparação com o mês de junho de 2010, em junho de 2011 o número de unidades consumidoras industriais atendidas pela Energisa Nova Friburgo caiu 2.4%, enquanto a quantidade de unidades consumidoras rurais ficou 1% menor.

Nos setores econômicos (agricultura, indústria e comércio e serviços), as perdas e danos foram estimados por organizações setoriais através de pesquisas de campo realizadas na ocasião do desastre. 

A consolidação destes resultados oferece um panorama geral do impacto imediato das inundações e deslizamentos sobre a atividade econômica na região.

Todavia, mais de um ano depois diversos subsetores ainda se recuperam, de modo que as estimativas aqui apresentadas tendem a subestimar o impacto total ao omitirem as perdas de prazo mais longo.

No setor agrícola, as perdas e danos foram estimados pela Secretaria de Agricultura e Pecuária em R$ 214 milhões.

Foram degradados cerca de 2.800 hectares nos sete municípios atingidos e 2.096 hectares de lavouras ou pastagens foram afetados. Além da produção destruída nas diversas lavouras afetadas, os municípios perderam cabeças de gado, estradas, pontes, equipamentos e moradias na área rural.

Esses danos causaram outras perdas indiretas como, por exemplo, a produção perdida por dificuldades de escoamento em função dos danos no setor de transportes. 

Os danos foram estimados em R$ 124 milhões, valor que corresponde a 58% dos custos estimados totais.

Os danos às moradias nas áreas rurais incluem a destruição de 449 unidades habitacionais e o comprometimento (recuperável) de outras 404 moradias. 

Além disso, segundo a Secretaria de Agricultura e Pecuária, os sistemas de captação e abastecimento de água foram danificados na maior parte dessas propriedades.

Diversas máquinas, veículos e equipamentos agrícolas desapareceram ou foram destruídos: 34 tratores, veículos utilitários e caminhões, 700 equipamentos de irrigação, além de outros utensílios e ferramentas.

Entre as instalações de produção destruídas estavam 102 galpões, 13 câmaras frigoríficas, 364 estudas, 31.500 metros de rede elétrica, 50 quilômetros de cerca e duas agroindústrias. 

Escritórios regionais de assistência técnica e pesquisa, bem como equipamentos de informática e laboratórios também foram danificados.

De acordo com a Secretaria de Agricultura e Pecuária, nas áreas de produção agrícola ocorreram erosões e deslizamentos de encostas, aterramentos pela lama, lixiviação de fertilizantes e extinção de áreas de cultivo. 

Diversos agricultores perderam o ponto de colheita ou não conseguiram escoar a produção. Ordenhas foram interrompidas e animais foram soterrados ou carregados pelas enxurradas (230 mil aves de corte e 7.500 aves de postura foram contabilizadas mortas). 

Assim, as perdas decorrentes da interrupção das atividades foram estimadas em R$ 90 milhões nas sete cidades em Estado de Calamidade Pública.

Cerca de três mil hectares foram diretamente afetados pelo desastre, sendo que mais de 60% das áreas atingidas eram cultivadas com olericultura (hortaliças). 

É importante mencionar que a Região Serrana é um importante produtor e fornecedor de produtos agrícolas no Estado do Rio de Janeiro: 

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2009 o valor adicionado na agricultura pelos sete municípios afetados correspondeu a 18.55% do valor adicional na agricultura no estado do Rio de Janeiro; de acordo com a Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária do Rio de Janeiro, mais de 20% das folhosas, legumes e verduras consumidas no Estado do Rio de Janeiro são produzidas na Região Serrana. 

De fato, durante a fase pós-desastre foi amplamente divulgado o aumento dos preços dos produtos agrícolas no estado do Rio de Janeiro como conseqüência das inundações e deslizamentos.

A fim de avaliar o impacto do desastre, foram visitadas mais de 15 mil propriedades, sendo que 13.806 eram unidades de agricultura familiar (mini e pequenas propriedades), característica da região, principalmente em Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto, onde, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária, cerca de 90% das propriedades têm até 10 hectares.

Enfim, o levantamento realizado pela instituição local indica impactos relevantes não apenas sobre as áreas cultivadas, mas também sobre recursos de produção que seriam importantes para a retomada das atividades no setor. 

Além disso, embora as perdas e danos sejam de propriedade privada, o impacto concentrado em pequenos produtores tende a reforçar ainda mais a absorção destes custos pelo setor público, o que caracteriza o setor agrícola como mais um canal de transmissão com potencial para gerar implicações fiscais tanto no nível de governo local, como estadual e federal.

Por Hoje, é Só! Daremos sequência nesse Assunto, no Quarto e Último Post. Fiquem a Vontade para Curtir, Compartilhar, Twittar, Fazer Comentários ou Dar Sugestões.






Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1118816/mod_resource/content/1/Inunda%C3%A7%C3%B5es%20Bruscas%20em%20Santa%20Catarina.pdf