sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Entendendo as Inundações Bruscas em Santa Catarina - Novembro de 2008 - Parte 3/4

            

Dado que a população afetada em Itajaí / Camburiú corresponde a 15% do total em todo o estado e Blumenau / Gaspar a 11%, pode-se inferir que os municípios do litoral catarinense não foram capazes de reagir à perda das infraestruturas de saúde e rapidamente instalar unidades temporárias de forma a atender a demanda pós-desastre. 

Isso pode estar associado ao fato de que o litoral sofreu com enchentes graduais as quais requerem um período de espera para que as ações de recuperação sejam implementadas devido ao nível das águas ou que Blumenau concentrou a atenção por ser um centro de serviços.

Assim, suspeita-se que parte da demanda tenha sido atendida por regiões vizinhas e a cidade de Blumenau tenha exercido papel vital frente ao elevado número de atendimentos emergenciais declarados (272 mil) que corresponde a quase a totalidade de sua população de aproximadamente 300 mil habitantes segundo o censo de 2010.

Em termos absolutos, as chuvas afetaram 129 unidades de saúde públicas e 48 privadas.

Seguindo a distribuição espacial de impactos apresentada anteriormente, o município de Itajaí concentrou 34% das unidades de saúde afetadas enquanto Blumenau e Joinville corresponderam por 26% e 15%, respectivamente. 

Porém, é importante ressaltar que frente ao número de unidades de saúde disponíveis nos referidos municípios, a proporção do impacto não se apresentou tão preocupante quanto no caso das cidades de Ilhota e Canelinha que teve 100% do sistema de saúde afetado pelas chuvas.

É importante observar o fato de que não foi contabilizada a redução no número de leitos ou capacidade do sistema de saúde. 

Os dados provenientes dos Avadans e pesquisas em fontes alternativas (a citar, Secretaria de Saúde do estado de Santa Catarina) não possuíam dados desta natureza. 

Estes, por sua vez, são de grande valia para que se compreenda a dimensão do impacto na questão operacional e consequentemente facilite a tomada de decisão na gestão da resposta / recuperação bem como se planeje ações de redução de riscos e vulnerabilidade para o setor em situações futuras.

Para a resposta, o estado instituiu o Grupo Reação, coordenado pela Secretaria do Estado
de Saúde (SES). Dentre as ações, destaca-se a organização do centro de operação emergencial, o hospital de campanha com capacidade de atendimento de 400 pessoas por dia, a capacitação de 100 médicos para o manejo e controle de pessoas com suspeita de infecção de leptospirose e ações conjuntas com o SAMU para triagem de vítimas.

Dentre os recursos disponibilizados, aproximadamente, R$ 99 milhões foram de origem federal e R$ 362 mil provenientes de doações.

As perdas e danos associados ao setor educacional do estado de Santa Catarina foram estimados na ordem de R$ 77 milhões. Segundo dados da Secretaria de Educação e dos Avadans, 270 escolas foram afetadas pelas chuvas de 2008/2009. 

Deste total, 12 escolas públicas foram totalmente destruídas enquanto 258 precisaram ser reparadas. 

A rede privada de ensino sustentou danos e perdas de menor escala quando comparado ao setor público: 52 escolas privadas foram danificadas pelas chuvas e nenhuma foi destruída.

Cerca de 20 municípios tiveram escolas danificadas e/ou destruídas. Em relação aos custos totais, grande parte corresponde ao setor público. 

Os danos foram estimados em, aproximadamente, R$ 66 milhões enquanto as perdas em função da interrupção das aulas chegaram a R$ 85.8 milhões. Destruição ou danos de equipamentos foram estimados em R$ 3 milhões e, por fim, a rede particular declarou custos de reparo e destruição de equipamentos da ordem de R$ 11.3 milhões.

No caso do sistema público, os valores de perdas (impacto indireto) em função da paralisação das aulas por falta de espaço físico e/ou indisponibilidade de professores são significativos quando comparados aos danos (impactos diretos).

Aproximadamente, 52% dos impactos são provenientes dos custos de paralisação das aulas que, em situações de desastres, podem estar relacionadas ao uso da infraestrutura de educação para o alojamento temporário de pessoas desalojadas ou desabrigadas.

Quando se trata do número de escolas afetadas, cinco municípios concentraram mais de 80% das escolas impactadas: Itajaí, Blumenau, Joinville, Penha e Brusque. 

O custo total de reparo do sistema de educação para estes municípios (incluindo as redes pública e privada) foram estimados em R$ 69.8 milhões. Deste total, R$ 9.7 milhões foram danos à rede privada, ou seja, 86% do custo total para o setor de educação privado em todo o estado de Santa Catarina após as chuvas de 2008/2009.

De forma semelhante aos danos no setor da habitação, os municípios de Itajaí e Blumenau estiveram um elevado número de imóveis afetados. 

Novamente, estes municípios demonstram a distribuição espacial dos impactos das chuvas de 2008/2009. Em termos de custos, a cidade de Itajaí declarou danos de reparo da ordem de R$ 29 milhões e Blumenau de R$ 23 milhões.

O número de escolas afetadas, em sua grande maioria, pertencente ao sistema público remetem ao desafio de coordenação de resposta e recuperação imposta à Secretaria de Educação. 

Paralelo à gestão de obras, há a necessidade de relocação dos alunos a fim de se reduzir os impactos no sistema de ensino. 

Porém, a distribuição espacial dos impactos que se concentram em um pequeno número de municípios aponta para a impraticabilidade na relocação do alunado dado que tal atividade iria requerer o deslocamento dos mesmos para municípios vizinhos.

Dentre as 322 escolas atingidas pelas enchentes, 270 pertencem ao sistema público e evidenciam um impacto relevante nesta rede de ensino. Entre as escolas públicas afetadas, 12 foram destruídas sendo 6 na cidade de Ilhota, 4 em Blumenau e 2 em Gaspar. 

Porém, segundo a Secretaria de Educação, foram demandados 11 projetos de reconstrução para Blumenau, 3 para Gaspar e 1 para Ilhota. Por fim, observa-se que, em sua grande maioria, as escolas da rede pública que foram impactadas não foram destruídas. Apenas 4% dos imóveis tiveram danos que os inutilizaram, correspondendo a custo total de reconstrução de R$ 9.6 milhões. 

Já para o reparo das unidades educacionais afetadas que necessitaram reparos, o custo estimado foi de R$ 53.4 milhões.

Assim, grande parte dos danos foi de ordem de reparos (81%), enquanto os custos de destruição e danos de equipamentos (orçados em R$ 10.9471,91 por unidade) totalizaram R$ 3.15 milhões correspondendo a aproximadamente 4% do custo total de danos.

Os impactos indiretos na educação devido à paralisação de aulas foi de maior monta na cidade de Blumenau devido aos grandes danos sofridos nas escolas públicas e concentração populacional no município. 

Segundo informado pelaprefeitura, o custo estimado foi de cerca de R$ 5 milhões e 34.474 alunos (mais de 10% da população total) ficaram sem aulas durante todo o evento (cerca de uma semana). 

Dado o período das chuvas, isto é final de novembro, foi decidida pela total interrupção das aulas e retorno das mesmas no início do ano letivo seguinte de acordo com o processo de recuperação das escolas. 

A razão desta decisão foi reforçada pela indisponibilidade (ou disponibilidade limitada) de transporte público e dificuldade de acesso nas escolas devido aos escorregamentos de encostas, alagamentos etc.

Já no município de Gaspar, mais de 13 mil alunos ficaram sem aulas por um período de 10 dias. Porém, nenhuma informação extra foi encontrada no Avadan do município remetendo à decisão tomada em relação a continuidade do ano letivo no mês de dezembro de 2008. 

Por fim, o município de Paulo Lopes declarou que 1.535 alunos ficaram sem aulas por um período de 3 dias contabilizando custos de mais de R$ 1.2 milhões.

Com relação aos impactos no setor privado de ensino, o município de Itajaí informou custos da ordem de R$ 9 milhões para o reparo das unidades afetadas e danos em equipamentos, seguido por Blumenau que contabilizou danos de R$ 652 mil.

Rodovias, estradas vicinais, pontes e pavimentação urbana foram destruídas pelas chuvas e inundações em diversos municípios do estado de Santa Catarina. Tais impactos contabilizaram custos da ordem de R$ 1.3 bilhões para o setor de transportes fazendo deste setor o mais afetado dentre os que compõem as infraestruturas.

Dos custos totais, 83% correspondem aos danos devido a necessidade de reconstrução ou reparo de uma grande quantidade de estradas, vias urbanas, pontes / túneis e custos de reparo no porto de Itajaí. 

Já as perdas estão associadas à dragagem e aquisição de veículos que contabilizaram custos de R$ 129 milhões. Custos de limpeza de vias urbanas para a remoção de material proveniente de deslizamento de encosta e sedimentos / materiais carregados pelas enchentes foram da ordem de R$ 2.5 bilhões.

Chama atenção o custo indireto de lucro cessante no município de Itajaí devido às paralisações nas atividades no porto. 

Segundo um estudo realizado pela autoridade portuária, os custos de R$ 100 milhões são reflexos da redução na movimentação da cadeia produtiva do transporte e não pagamento de impostos municipais e federais. 

Os registros das atividades do porto indicam uma queda de movimentação de containers de 679 mil toneladas no final do mês de outubro de 2008 para pouco menos de 100 mil toneladas no final do mês de dezembro do mesmo ano. Porém, os impactos do desastre não se resumem ao curto prazo visto que obras de reconstrução e reparos demandam médios e longos prazos. 

Assim, ainda no final de março de 2009, o volume de movimentação no porto se resumiu a 374 mil toneladas, ou seja, 45% de redução em relação ao movimentado no mês de novembro de 2008.

Devido aos impactos no porto, o município de Itajaí foi o que registrou maior volume de perdas e danos no setor de transportes: R$ 485 milhões. Note que estes custos estão associados ao alto valor dos ativos do porto bem como os impactos indiretos em sua paralisação. 

A título de exemplo, apenas os impactos nas instalações portuárias e berços foram estimados em R$ 250 milhões enquanto a dragagem e limpeza emergencial foram da ordem de R$ 64 milhões e R$ 45 milhões, respectivamente. Com relação aos impactos no sistema de rodovias do estado, os danos em pavimento foram de aproximadamente R$ 208 milhões. 

A cidade de Ilhota declarou em seu Avadan que toda sua malha viária (320 kms) foi destruída.

Estima-se que mais de 8.000 km de estradas foram danificados e 579 km destruídos nos 60 municípios afetados pelas chuvas. Com relação a obras de artes, mais de 14 mil foram danificadas e 616 destruídas.

Com relação aos danos sustentados pela malha viária urbana, os custos foram da ordem de R$ 75 milhões. Deste total, R$ 9.5 milhões foram devido a destruição de mais de 7.2 milhões de m2 de asfalto e R$ 65.5 milhões devido a 1.85 bilhão de m2 de vias danificadas.

O município que declarou maior destruição à malha viária urbana foi Guaramirim; porém, valores específicos da dimensão física dos impactos não foram encontrados nos Avadans para o referido município.

Por Hoje, é Só! Mas, Daremos Continuidade a Esse Assunto no Quarto e último Post. Espero Vocês! Até Lá......

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Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1118816/mod_resource/content/1/Inunda%C3%A7%C3%B5es%20Bruscas%20em%20Santa%20Catarina.pdf

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