sábado, 22 de novembro de 2014

Entendendo as Inundações Bruscas em Alagoas - Junho de 2010 - Parte 3/3

            

O setor de comércio foi o quarto mais impactado pelas chuvas de Alagoas em junho de 2010. Via de regra, o comércio sofre tanto com danos em decorrência da destruição ou danificação de infraestrutura quanto pela não prestação de serviços devido aos impactos do desastre.

A mensuração dos impactos diretos e indiretos é de difícil natureza, pois dependem de informações do setor privado que muitas vezes não existem ou não são facilmente obtidas. Mesmo frente a esta realidade, os custos totais levantados pelo Sebrae nos municípios atingidos pelas chuvas foram de R$ 125 milhões, dos quais 77% correspondem a danos (impactos diretos). 

Dentre os componentes dos impactos diretos, têm-se tanto a destruição de edificações (439) quanto os danos a prédios comerciais (307) e perda de estoque, mercadoria e equipamentos.

Com relação às perdas, observou-se que a paralisação das atividades comerciais e conseqüente não prestação de serviços foi a maior causa de prejuízos imediatamente após a ocorrência do desastre. Neste sentido, 875 empresas declararam ter suas atividades impactadas pelo desastre enquanto que 16 instituições financeiras também informaram que não desempenharam suas atividades em razão das enchentes.

Em termos municipais, a cidade de Quebrangulo foi a mais impactada com custos totais de quase R$ 34 milhões. A concentração dos impactos foi observada nas cidades de Quebrangulo, União dos Palmares e Branquinha que, conjuntamente, sofreram 64% das perdas e danos totais. 

Em cada uma destas cidades, 137, 131 e 110 empresas declaram terem sido afetadas, respectivamente.

Observa-se ainda a distribuição espacial de impactos físicos das enchentes no estado quando se nota que em diversas cidades as chuvas não causaram danos as edificações comerciais, mas somente a equipamentos e estoques e impossibilitaram a continuidade das atividades comerciais. 

Este foi o caso de inúmeras cidades, dentre elas Rio Largo (147 empresas) e Murici (138 empresas). Do total de 1.302 empresas afetadas, 54% não declararam danos ou destruição a suas edificações.

Por fim, segundo informações provenientes do Projeto SOS Empresas sob liderança do SEBRAE-AL, aproximadamente 85% das empresas declararam queda de movimentação comercial, 67% perderam insumos em mercadorias em estoque, 59% tiveram máquinas e equipamentos danificados e 51% sofreram danos na estrutura física do estabelecimento comercial. 

De forma mais preocupante, 73% dos empreendimentos informaram ter problemas de quitação de dívidas devido ao baixo faturamento enquanto 87% dos empresários afirmaram necessitar de aporte de recursos de terceiros para o reinicio de suas atividades.

Conforme apresentado, os impactos diretos e indiretos no setor agropecuário em virtude das chuvas em Alagoas foram moderados visto que as inundações não atingiram as regiões mais altas do estado onde as atividades agrícolas se concentram. 

Em termos gerais, mais de R$ 12 milhões foram perdidos em danos (impactos diretos) no setor, dos quais 74% foram referentes ao subsetor agrícola. O restante dos danos, ou seja, R$ 3.2 milhões foram decorrentes da morte de animais e danos à produção leiteira.

Em termos monetários, a produção de grãos / cereais / leguminosas foi a mais impactada, com custos totais da ordem de R$ 1.4 milhões. 

Porém, em termos absolutos de produção, se destaca a perda de mais de 3 toneladas de frutas. Para o caso específico da pecuária, o ramo que mais reportou perdas foi a piscicultura, com mais de 573 mil peixes e similares perdidos, enquanto a pecuária de pequeno porte declarou custos totais de R$ 826 mil, o que corresponde a cerca de 1.823 animais mortos em razão das chuvas. 

Vale ainda ressaltar, que cerca de 100 mil litros de leite foram perdidos e mais de 26 mil aves mortas com os custos de R$ 65 mil e R$ 417 mil, respectivamente. É importante ressaltar que perdas (ou impactos indiretos) não foram avaliadas dada a indisponibilidade de informações no momento do presente estudo. 

De forma adicional, todos os componentes de prejuízos são provenientes de impactos diretos ao setor privado pelo fato de que, via de regra, o poder público não possui ativos no setor agropecuário.

Ainda em relação aos componentes de custo do desastre para o setor agropecuário, observou-se que grande parte dos mesmos (54%) se deu em razão dos danos sofridos pelas instalações físicas e prediais rurais. Cerca de 180 edificações foram afetadas pelas chuvas, das quais 66 foram destruídas.

Dentre os impactos por município, União dos Palmares, Branquinha, Murici e Santana do Mundaú correspondem a 79% dos custos totais declarados para o setor.

Segundo os dados dos Avadans, União dos Palmares reportou custos de R$ 3.8 milhões, Branquinha de R$ 3.1 milhões, Murici de R$ 1.5 milhões e Santana do Mundaú de R$ 1milhão.

Os setores de Meio Ambiente, Industrial, Energia e Telecomunicações foram omitidos das análises específicas em razão da pouca disponibilidade de dados ou falta de especificidade dos mesmos.

Segundo os dados dos Avadans, danos ao Meio Ambiente foram da ordem de R$ 32.7 milhões sendo os impactos no solo os mais significativos. Já no setor industrial, os impactos diretos foram de R$ 94.3 milhões dos quais R$ 36 milhões correspondem a edificações danificadas e R$ 57 milhões em matérias primas de transformação. 

Finalmente, os impactos nos setores de energia e telecomunicações foram de R$ 11.7 milhões e R$ 2.8 milhões, respectivamente. 

Observe que, em sua grande maioria, os impactos são diretos sendo que perdas somente forma estimadas para o caso dos consumidores que tiveram energia cortada em razão de danos à rede de distribuição. Complementarmente, os danos no setor de meio ambiente foram sobre o setor público, enquanto o setor privado foi impactado nos demais setores omitidos, isto é, industrial, energia e telecomunicações.

As fortes chuvas de Junho de 2010 em Alagoas e a dificuldade de gestão do evento foram determinantes nos impactos econômicos sofridos pelo estado bem como pelo grande número de municípios e pessoas afetadas. Dentre os 15 municípios em Estado de Calamidade Pública e 4 em Situação de Emergência, mais de 50% da população do estado foi afetada (aproximadamente 1.5 milhão de pessoas).


Os custos diretos e indiretos foram da ordem de R$ 1.85 bilhões o que reflete um alto impacto quando comparado a economia do estado. Em termos gerais, o custo total estimado foi da ordem de 8% do Produto Interno Bruto de Alagoas. Complementarmente, a grande proporção de perdas e danos ao setor privado (67%) aponta para morosos e difíceis processos de recuperação do setor pós-desastre.

De forma similar ao desastre ocorrido no estado de Pernambuco e que fora ocasionado pelo mesmo evento meteorológico, o setor mais impactado foi a habitação que responde por 59% dos custos totais. Foram estimados custos totais de R$ 241 milhões ao setor de transportes no qual grande parte se refere a perdas e danos no setor público.

Complementarmente, o setor privado reportou danos da ordem de R$ 55 milhões na ferrovia Transnordestina. Por fim, o setor de educação foi direta e indiretamente afetado com danos à infraestrutura das escolas (prédios e equipamentos) bem como perdas pela impossibilidade de continuidade das atividades escolares.

Em relação à distribuição espacial da população afetada, 7 municípios tiveram toda sua população impactada de alguma forma:

* São José da Laje, Murici, Quebrangulo, União dos Palmares, Ibateguara, Jacuípe e Santana do Mundaú. 

Dentre esses, União dos Palmares respondeu por 23% da população afetada no estado e 31% da população desabrigada. União dos Palmares foi também o município que declarou maior volume de perdas e danos: R$ 400 milhões ou 26% do custo total para o estado.

Assim, observa-se que paralelamente ao fato de que o custo total do desastre para o estado de Alagoas foi significativo deve-se observar a alta concentração das perdas e danos em alguns municípios do estado implicando em maiores dificuldades de recuperação pós-desastre. 

Por fim, os significativos impactos no setor privado e danos / destruição de infraestruturas físicas essenciais ao desenvolvimento de atividades econômicas ressaltam a necessidade e urgência de um eficiente processo de recuperação de forma a se reduzir os impactos conseguintes do desastre.

ANEXO 1. Habitação: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.
- Tabelas do programa Minha Casa, Minha Vida.
- Contagem Populacional de 2007 (IBGE).
- PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2009.
- Relatórios das Secretarias de Estado de Alagoas sobre a Operação Reconstrução.

B. Premissas

- Custo de reconstrução de unidade habitacional popular destruída em R$ 41 mil, conforme tabela do Programa Minha Casa, Minha Vida.
- Custo de reconstrução de unidade habitacional não-popular é de, no mínimo, 150% do custo de construção de uma unidade habitacional popular.
- Custo de recuperação de unidade habitacional (popular e não-popular) é 25% do custo de reconstrução.
- Mobiliário completo de unidade habitacional estimado em R$ 3.500. Custo de reposição de mobiliário de domicílio destruído é estimado em 60% de um kit completo. Custo de reposição de mobiliário de domicílio danificado é estimado em 30% de um kit completo.
- As perdas de receita por aluguel das unidades não–populares destruídas foram calculadas para um período de 12 meses.

C. Omissões

- Custos de demolição e remoção de escombros.
- Custos de elaboração de laudos de vistoria.

- Custos de obras de contenção de encostas.

ANEXO 2. Educação: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Educação de Alagoas.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.

B. Premissas

- Custo médio de obras de engenharia de escola municipal estimado em R$ 1.2 milhões e de escola estadual em R$ 1.4 milhões, conforme metodologia e premissas da Secretaria de Educação.
- Custos (médio por escola atingida) de transporte a aluguel de espaços temporários para restabelecimento das aulas estimados em R$ 14 mil e R$ 22 mil para escolas municipais e estaduais, respectivamente.

C. Omissões

- Custos de recuperação das escolas utilizadas como abrigo.
- Custos de demolição/remoção de escombros das escolas danificadas e destruídas.
- Valor dos terrenos e respectivos custos de preparação necessários para a construção das escolas que precisam ser realocadas.

ANEXO 3. Saúde: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.

B. Premissas

- Custo de reconstrução de unidade de saúde estimado em R$ 732.018,68 conforme dados da Secretaria da Saúde.
- Custo de ações de reforço do atendimento hospitalar em R$ no valor de 70 mil, por hospital com repasse durante 06 meses.
- Custo mensal de equipe de saúde da família estimado em R$ 10 mil com repasse
durante 03 meses.

C. Omissões

- Custos de campanhas de controle de vetores.
- Custos de instalação de Hospitais de Campanha com custo estimado em R$ 830.400,00.
- Custos operacionais de Hospitais de Campanhas está subestimado pelas (i) estatísticas de atendimentos desatualizadas e (ii) pelo custo de atendimento que considera apenas o custo mínimo de consulta com clínico geral.
- Custo de R$ 32.400,00 com locação de geradores para estabelecimento de energia através de fontes alternativas na manutenção do atendimento durante a fase emergencial C.
- Custos de estabelecimento de unidades temporárias de atendimento e gestão na área da saúde incluindo o custo da instalação do hospital de campanha nos municípios de Branquinha e Santana do Mundaú (únicas unidades temporárias custeadas).

ANEXO 4. Transportes: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.
- DER de Alagoas.

B. Premissas

- Obras orçadas pelo DER- Alagoas com base em tabelas e parâmetros próprios da instituição.

C. Omissões

- Aumento de custos de transportes decorrentes de atrasos, desvios ou interrupções de tráfego.
- Custos de ações provisórias para o restabelecimento das condições de tráfego.
- Lucros cessantes de transportadores decorrentes das interrupções de tráfego.

- Aumento de custos de transportes decorrentes das demandas do setor não atendidas.

ANEXO 5. Saneamento: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.

B. Premissas

- Foram aplicados os parâmetros informados pela Compesa para o estado de Pernambuco:
- Custos de recuperação da rede de distribuição de água estimado em R$ 160 por metro.
- Custos de recuperação da rede de coleta de esgoto estimado em R$ 260 por metro.
- Custo de manutenção das ETE estimado em R$ 450 mil.

C. Omissões

- Perdas de receitas das companhias de abastecimento de água e coleta de esgoto.
- Custos de medidas temporárias para o restabelecimento da distribuição de água.
- Custos de obras de expansão da rede de distribuição de água e coleta de esgotos para os novos conjuntos habitacionais.

ANEXO 6. Comércio: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Sebrae de Alagoas.
- BNDES.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.

B. Premissas

- Números obtidos com base nos valores informados pelas empresas pesquisadas pelo Sebrae de Alagoas e pelos municípios através dos Avadans.

C. Omissões

- Aumentos de custos de insumos.
- Aumentos de custos de aluguel.

- Custos de demolição e remoção de escombros das unidades destruídas/danificadas.

ANEXO 7. Agricultura e Pecuária: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- IBGE.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.
- Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Agrário de Alagoas.

B. Premissas

- Os preços dos produtos agrícolas informados pelos municípios foram confrontados com dados do IBGE e de outras organizações do setor. Nas culturas identificadas não foram encontradas discrepâncias relevantes. Nas culturas não identificadas pelos Avadans não foi possível verificar a valoração realizada pelos municípios.
- Os valores dos danos às edificações rurais são aqueles informados nos Avadans.

C. Omissões

- Perdas na agroindústria decorrentes do aumento de custos, indisponibilidade e menor produtividade de produtos agrícolas.
- Possíveis quedas de produtividade nas áreas afetadas pelo desastre.
- Aumento de custo de insumos agrícolas.
- Custos decorrentes de dificuldades no escoamento da produção.

- Produção perdida por dificuldades de escoamento. 

ANEXO 8. Setores Omitidos: Avaliação de Perdas e Danos

A. Fontes de dados

- Relatórios de Avaliação de Danos da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
- Secretaria Estadual de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas.
- Eletrobrás.

B. Premissas

- Foram utilizados os valores informados pelos municípios através dos Avadans e dados sobre o uso dos recursos da Reserva Global de Reversão divulgados pela Eletrobras.

C. Omissões

- Perdas de receitas das companhias de telecomunicações, energia elétrica e na indústria.
- Danos aos equipamentos industrias.
- Aumento de custos operacionais nos setores.
- Custos de reparos provisórios para re-estabelecimento do fornecimento de energia elétrica e do serviços de telecomunicações.

- Aumentos de custos de insumos e dificuldades na distribuição de produtos industriais.

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Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1118813/mod_resource/content/1/Inunda%C3%A7%C3%B5es%20Bruscas%20em%20Alagoas.pdf

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